Duas histórias fascinantes – Um fato em comum

As histórias a seguir relatadas, embora não tenham sido levadas à tela, fazem lembrar a comovente trajetória do alemão Oskar Schindler (28/04/1908 – 09/10/1974), notabilizado no filme “A lista de Schindler”, dirigido pelo premiado diretor de origem judaica Steven Spielberg. A propósito, Spielberg não cobrou um único centavo para trabalhar neste filme. Ele alegava que o dinheiro seria fruto de assassinatos. Todo o dinheiro que caberia à ele, até mesmo resíduos de direitos autorais, foram repassados à Shoah Foundation, a organização que gravou e arquiva os depoimentos de sobreviventes e testemunhas do Holocausto.

Episódio nº 1

Sir Nicholas Winton, conhecido como o “Schindler britânico”, que salvou 669 crianças tchecas e eslovacas, judias em sua maioria, da morte certa nos campos de concentração nazistas, faleceu nesta quarta-feira (1º de julho de 2015) aos 106 anos, anunciou o Rotary Club de Maidenhead (Sul). A história desse notável ser humano tem início no final de 1938, quando o então jovem funcionário da Bolsa de Londres, Nicholas Winton foi para Praga a convite de um amigo que trabalhava na embaixada britânica. Ele pediu-lhe ajuda quando parte da Tchecoslováquia caiu nas mãos dos nazistas e campos de refugiados foram criados. Winton abriu um “escritório” em um hotel de Praga, recebendo pais judeus desesperados em colocar seus filhos em um local seguro. A tarefa era difícil: obter um visto para a Grã-Bretanha, encontrar para cada criança uma família adotiva e levantar fundos para o transporte por trem. Entre março e agosto de 1939, o britânico contribuiu para levar a seu país em oito trens 669 crianças. Um nono comboio, programado para partir em 3 de setembro com 250 crianças, foi bloqueado pela entrada da Grã-Bretanha na guerra e todas as crianças desapareceram, provavelmente enviadas para o campo de concentração. Winton considerava que não tinha feito nada de excepcional, embora a imprensa o tenha apelidado de o “Schindler britânico”, em referência ao industrial alemão Oskar Schindler, que salvou 1.200 judeus no Terceiro Reich. Winton manteve o silêncio sobre suas façanhas humanitárias por muitos anos, até a sua esposa Grete encontrar em 1988, um scrapbook detalhado(álbum com recortes e fotos) em seu sótão. Continha listas das crianças, incluindo os nomes de seus pais, e os nomes e endereços das famílias que permitiu o envio de cartas para estes endereços e, assim, 80 “crianças de Winton” foram encontradas na Grã-Bretanha. O mundo descobriu sobre o seu trabalho, em 1988, durante um episódio do programa de televisão da BBC That’s Life!, quando foi convidado como um membro da plateia. Em um ponto, recados de Winton foram mostrados e suas realizações explicadas. A apresentadora do programa, Esther Rantzen, perguntou se alguém na plateia devia a sua vida a Winton e, em caso afirmativo, para ficar em pé. Mais de vinte pessoas ao redor de Winton se levantaram e o aplaudiram. Felizmente Winton pôde receber em vida diversas homenagens pelo seu gesto humanitário. Foi agraciado com a Ordem de Tomáš Garrigue Masaryk, Quarta Classe, pelo Presidente Checo em 1998; em 1983, foi nomeado como um Membro da Ordem do Império Britânico pelo seu trabalho na instalação na Grã-Bretanha de asilos da sociedade Abbeyfield, em 2002, foi nomeado cavaleiro pela rainha Elizabeth II, em reconhecimento ao seu trabalho salvando crianças; em 2008, foi homenageado pelo governo checo de várias formas. Uma escola de ensino elementar em Kunžak recebeu seu nome e ele foi agraciado com a Cruz do Mérito do Ministério da Defesa, Grau I. Também foi indicado pelo governo checo para o Prêmio Nobel da Paz de 2008. O asteróide 19384-Winton foi nomeado em sua honra pelo casal de astrônomos checos Jana Tichá and Miloš Tichý. Vera Gissing, uma das crianças salvas na época escreveu a biografia de Winton, em agradecimento ao seu ato de coragem.

Episódio 2

Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena Sendler conseguiu uma autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Mas os seus planos iam mais além.Sabia quais eram os planos dos nazistas relativamente aos judeus (sendo alemã!). Irena trazia crianças escondidas no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de serapilheira(galhos e folhas) na parte de trás da sua caminhonete (para crianças de maior tamanho). Também levava ainda na parte de trás da camioneta um cão, a quem ensinara a ladrar aos soldados nazistas quando entrava e saia do Gueto. Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruído que os meninos pudessem fazer. Enquanto pôde manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2.500 crianças. Por fim, os nazistas apanharam-na. Souberam dessas atividades e em 20 de outubro de 1943, Irena Sendler foi presa pela Gestapo e levada para a infame prisão de Pawiak, onde foi brutalmente torturada. Num colchão de palha, encontrou uma pequena estampa de Jesus com a inscrição: “Jesus, em Vós confio”, e conservou-a consigo até 1979, quando a ofereceu ao Papa João Paulo II. Ela, a única que sabia os nomes e moradas das famílias que albergavam crianças judias, suportou a tortura e negou trair seus colaboradores ou as crianças ocultas. Quebraram-lhe os ossos dos pés e das pernas, mas não conseguiram quebrar a sua determinação. Já recuperada, foi, no entanto, condenada à morte. Enquanto esperava pela execução, um soldado alemão levou-a para um “interrogatório adicional”. Ao sair, ele gritou-lhe em polaco: “Corra!”. Esperando ser baleada pelas costas, Irena, contudo, correu por uma porta lateral e fugiu, escondendo-se nos becos cobertos de neve até ter certeza de que não fora seguida. No dia seguinte, já abrigada entre amigos, Irena encontrou o seu nome na lista de polacos executados que os alemães publicavam nos jornais. Os membros da organização Żegota (“Resgate”) tinham conseguido deter a execução de Irena, subornando os alemães e Irena continuou a trabalhar com uma identidade falsa. Irena mantinha um registro com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, guardadas num frasco de vidro enterrado debaixo de uma árvore no seu jardim. Depois de terminada a guerra, tentou localizar os pais que tinham sobrevivido e reunir a família. A maioria tinha sido levada para as câmaras de gás. Para aqueles que tinham perdido os pais, ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adotivos. Em 2006, foi proposta para receber o Prêmio Nobel da Paz, mas não foi selecionada. Quem o recebeu foi Al Gore por sua campanha sobre o Aquecimento Global. Irena Sendler, salvou milhares de crianças praticamente sozinha, correndo sério risco de ser flagrada e fuzilada pelos alemães. – “A razão pela qual resgatei as crianças tem origem no meu lar, na minha infância. Fui educada na crença de que uma pessoa necessitada deve ser ajudada com o coração, sem importar a sua religião ou nacionalidade.” (Irena Sendler). As histórias protagonizadas por Nicholas Winton e Irena Sendler, deveriam também virar filme para atingir milhões de pessoas e mostrar que, mesmo diante da barbárie e das atrocidades do homem é possível destacar pessoas que, num gesto de heroísmo e grandeza, arriscaram a própria vida para salvar outras e, isso tem um nome – ANJOS DE DEUS.

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