A doença do suor e a história de Ana Bolena

 

O capítulo 8º da série The Tudors(Netflix) mostra cenas de pessoas acometidas com a doença do suor (Sudor anglicus), que se constituiu em uma epidemia de etiologia desconhecida, muito provavelmente causada por um hantavírus, que matou cerca de 3 milhões de pessoas na Inglaterra, entre 1485 e 1551, e outras milhares de vítimas por toda Europa.

A doença apareceu inicialmente na Inglaterra nos meses de verão, do ano de 1485 e foi desaparecendo com a chegada do inverno. Reapareceu em 1508, 1517, 1528 e 1551. Não fazia distinção entre sexo, classe social ou idade, mas fez vítimas predominantemente em homens de 15 a 45 anos.

Os sintomas iniciais eram de uma doença respiratória aguda (com tosse, falta de ar e febre) como o resfriado comum, associados a uma sudorese intensa que originou o seu nome característico. Prostração, indisposição, vômitos e dores pelo corpo (principalmente dores musculares, abdominais e cefaleia intensa) também eram relatadas.

No estágio final, o indivíduo apresentava confusão mental, delírio, aceleração da respiração e dos batimentos cardíacos. Não havia qualquer manifestação na pele (exantemas, manchas) ou nos bubões (linfonodos), comuns em outras doenças da época, como a peste bubônica. Os sintomas indicam que a morte era ocasionada pela rápida falência respiratória associada à desidratação. O desconhecimento na época, com relação ao tratamento, pode ter contribuído para acelerar a morte: havia uma ideia de que o paciente acometido deveria provocar em si ainda mais suor com o intuito de forçar a doença a ser exalada para fora do corpo.

Assim, tão logo alguém apresentava qualquer um dos sintomas, era imediatamente envolto em roupas, mantas e cobertores, forçavam-lhes exercícios extenuantes e métodos sem qualquer eficácia, como a sangria. Pouco tempo depois, acometido de febre e com um suor fétido exalando do seu corpo, o paciente morria e os familiares acreditavam que isso tinha acontecido porque o “tratamento” havia sido iniciado tarde demais.

E o que essa epidemia tem a ver com Ana Bolena? Basicamente nenhuma relação a não ser o fato de que Ana Bolena, a segunda esposa de Henrique VIII, rei da Inglaterra, foi uma das poucas sobreviventes da doença, que era fatal registrando altíssimos índices de óbitos.

Ana Bolena nasceu em torno de 1501, provavelmente em Bickling (Norfolk), era filha de sir Thomas Bolena (Boleyn) e de Isabel Howard, filha do duque de Norfolk. Após passar os anos 1519 a 1521 na corte francesa, Ana regressou à Inglaterra e foi cortejada pelo próprio rei durante sete anos até se tornar rainha. Ela era uma das mais admiradas senhoritas da corte e chamava a atenção de vários homens. O casamento foi polêmico, já que o rei teve que anular sua união com Catarina de Aragão, o que era proibido. Por conta do episódio, Henrique VIII foi excomungado pelo Papa Clemente VII e fundou a Igreja Anglicana.

Historicamente, pode-se dizer que a igreja Anglicana nasceu da irresistível e avassaladora paixão do rei por uma mulher. Ana foi coroada rainha no dia 23 de maio de 1533 e manteve-se no trono por aproximadamente 1000 dias. Da união com Henrique VIII, Ana teve uma filha, mas nunca conseguiu gerar um menino. Sua única filha, Elizabeth, se tornou umas das maiores rainhas da Inglaterra. Em 2 de maio de 1536, sem conseguir completar a três ano como rainha consorte da Inglaterra, Ana foi presa na Torre de Londres, acusada, juntamente ao seu irmão Jorge, de adultério, incesto e alta traição.

Além de no desespero para gerar um herdeiro ao trono, ser acusada de ter tido relações sexuais com seu irmão, Jorge Bolena, dando à luz a um ‘monstro’. Cinco homens, incluindo o seu irmão, foram também presos e interrogados sob tortura. Baseado nas confissões resultantes, o Parlamento condenou Ana Bolena por traição no dia 15 de maio. O casamento com Henrique VIII foi anulado dois dias depois, por razões desconhecidas, uma vez que os registos foram destruídos. Na manhã do dia 19 de maio de 1536, Ana Bolena subiu as escadas do andaime erguido sobre a Torre Verde, dentro do complexo da Torre de Londres.

Ela proferiu um discurso elogioso sobre a bondade e misericórdia do Rei, pedindo aos presentes para que orassem por ela. Em seguida, ela retirou sua elegante capa de arminho, ajoelhou-se, e o dispendioso carrasco francês que Henrique VIII contratou, ergueu sua espada e dividiu seu longo pescoço em um único golpe. A morte de Ana é tão familiar para nós, que se torna difícil compreender o quão chocante isto deve ter sido na época: a rainha da Inglaterra executada sob a acusação de incesto, adultério e por conspirar a morte do rei.

E não era qualquer Rainha: ela era a mulher por quem Henrique VIII havia abandonado Catarina de Aragão, sua esposa por quase 24 anos, esperando sete longos anos para contrair matrimônio, rompendo com a Igreja Católica e criando uma rede de intrigas e revoltas que transcenderiam seu próprio reino. No entanto, apenas três anos após oficializar tal união, o corpo de Ana jazia frio abaixo de um túmulo sem nome e o motivo de sua morte, permanece sendo um dos grandes mistérios da história da realeza inglesa.

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