Ciência com consciência

Descia eu a rua principal da cidade quando a vendedora de uma loja me chamou a atenção. Lembrei-me de uma amiga, Marlene, sempre sorrindo enquanto atendia seus clientes, e ela já se foi. Lembrei-me de Fabião, um amigo jovem, com a juventude cheia de contratempos, uma fortaleza, mas que também já se foi.

Num segundo tive a consciência de que levamos a vida muito superficial, confusos entre a realidade que percebemos e sentimos e a realidade que a TV nos apresenta e que hipnotizados assistimos como se tudo só acontecesse lá, bem longe daqui, bem longe de nós. Ficamos fascinados com tanta tecnologia, e com razão, mas a forma como estamos usando a nossa inteligência não é motivo para tanto orgulho. A evolução deve acontecer com ciência, mas também com consciência.

Ainda hoje moramos em cavernas, debaixo de pontes e viadutos, favelas e bancos de jardins. Ninguém perde o sono quando vê na TV um ser humano, chamado “homem bomba”  se explodir deixando claro que para ele matar é mais importante do que viver.

Efeito estufa, buraco na camada de ozônio, desmatamentos, queimadas, enchentes, terremotos, furacões, falta d’água, prostituição infantil e política, desamor, solidão, miséria, falta de solidariedade, de religiosidade, de consciência, de justiça, drogas, violência, dinheiro na cueca, na meia, espalhado em caixas pela sala de um apartamento vazio,…., tudo isso “é normal”.

Sei que ninguém deseja este mundo que estamos criando, cheio de medos, de inseguranças, de pessoas desmotivadas e preocupadas com quase tudo, mas só pensando no pior, em como vai ficar pior (como eu estou fazendo agora), ao invés de se perguntar:- o que podemos fazer para melhorar este mundo, para torná-lo mais digno e humano? Um mundo onde tenhamos orgulho de viver nele.

Ninguém quer um mundo onde a juventude se envolve cada dia mais com as drogas, com o crime, com a ausência de auto- estima, com o desapego à vida. Ninguém quer um mundo onde os “bandidos” usem armas nucleares.

Mas que mundo é esse? De que mundo eu estou falando? O que Catanduva, Marlene, Fabião tem a ver com tudo isso?

Viram como é fácil a gente se dispersar?

Uma caminhada pela cidade, uma vendedora desconhecida, a lembrança de amigos que já se foram, um surto de pensamentos de filósofo de esquina, uma ameaça de senso de responsabilidade, mas quando vou começar a me envolver realmente com “algo” maior, que transcenda o meu momento e o meu tempo, saio pela tangente para “não” tomar consciência do quanto tudo é imprevisível, de como as mudanças são rápidas e constantes, e de como nossa mente dá um jeito de se adaptar de qualquer jeito com qualquer coisa.

E o inconsciente vai armazenando tudo, mas sem a participação da mente consciente, e a gente vai levando, socialmente, como gente boa que somos, cada um na sua, com o maior respeito, com toda a educação, na mais completa e total hipocrisia e irresponsabilidade.

Todos os dias a vida nos ensina, nada de novo acontece, a não ser quando é com a gente. Mas a gente esquece logo.

Quando escrevi este artigo há mais de 15 anos jamais pensaria que um dia viveria pandemias como as de hoje, de vírus, desinformação, corrupção…                               

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