O efeito Donora

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No quarto episódio da fascinante série “The crow”, disponível no Netflix, que retrata a história biográfica da família real do Reino Unido, é reproduzido um fato verdadeiro ocorrido em Londres no início do mês de dezembro de 1952, que ficou conhecido como “Nuvem tóxica de Donora”.

Antes de descrever o sucedido em Londres, é importante relatar o ocorrido quatro anos antes. Em 1948, uma nuvem tóxica produzida por uma inversão térmica propiciou a formação de uma densa nuvem que causou a morte de 20 pessoas e problemas de saúde a outras 7.000, na pequena cidade industrial de Donora, situada no Estado da Pensilvânia, condado de Washington e que, à época possuía uma população de pouco mais de 14.000 habitantes.

Setenta anos depois, o acidente foi descrito pelo New York Times, como uma das piores catástrofes do meio ambiente da historia dos Estados Unidos. A nuvem se formou nas primeiras horas da manhã do dia 27 de outubro de 1948 e perdurou até o dia 31 do mesmo mês, causando problemas de irritação na garganta e respiratórios na população.

O fenômeno foi atribuído à inversão térmica provocada pelos gases formados por flúor de hidrogeno e dióxido de enxofre expelidos pelas chaminés das indústrias Donora Zinc Works e American Steel & Wire, ambas do grupo U.S.Steel.

A Cruz Vermelha determinou a instalação de centros de atendimento em vários pontos e a U.S. Steel jamais assumiu a responsabilidade pela catástrofe, alegando tratar-se de “um ato de Deus”, até que em 1951, concordou em pagar uma indenização de 235 mil dólares a cerca de oitenta vitimas.

A empresa ainda respondeu a 130 outros processos que exigia uma indenização de 4.6 milhões de dólares. A nuvem de Donora foi um dos incidentes naturais que marcou a preocupação do povo americano quanto à exposição a elevados níveis de contaminação, levando os ecologias a proporem a aprovação de uma lei de proteção ao meio ambiente aprovada em 1970 e, que ficou conhecida como Clean Air Act(Lei do ar limpo).

Mas, voltando a Londres, o nevoeiro decorrente de severa poluição atmosférica teve inicio em 5 de dezembro de 1952 e só se dissipou após o dia 9. O fenômeno foi considerado como um dos piores impactos ambientais até então, sendo causado pelo crescimento incontrolado da queima de combustíveis fósseis na indústria e nos transportes. Acredita-se que o nevoeiro tenha causado a morte de 12.000 londrinos, e deixado outros 100.000 doentes.

No início daquele mês de dezembro, uma frente fria chegou a Londres e fez com que as pessoas queimassem mais carvão que o usual no inverno. O aumento da poluição do ar foi agravado por uma inversão térmica, causada pela densa massa de ar frio.

O acúmulo de poluentes foi crescente, especialmente de fumaça e partículas do carvão que era queimado. A densa fumaça negra chegou a impossibilitar o trânsito de automóveis nas ruas e motivou o cancelamento de todas as atividades culturais da cidade(cinema, teatro, etc).

O saldo final da inversão térmica foi de 8.000 mortes, a maioria crianças, em decorrência das infecções de pulmão, principalmente broncopneumonia. A exemplo de Donora, surgiram movimentos ambientais que foram determinantes para as autoridades inglesas tomarem medidas quanto ao uso de combustíveis sujos na indústria e banindo a fumaça negra.

Nos anos seguintes, uma série de normas legais como o Clean Air Act em 1956 e o Clean Air Act em 1968, restringiu a poluição do ar. O carvão que vitimou a população londrina, além de enxofre, contém metais pesados e altamente tóxicos como mercúrio, cádmio, níquel, arsênio, entre outros.

Os históricos e trágicos episódios provocados pela nuvem negra de Donora e Londres, ao que tudo indica não conseguiram sensibilizar alguns países, notadamente a China e seus grandes centros industriais que, em pleno século XXI, transformam o dia em noite, por conta da cortina densa de nuvem tóxica.

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