Ao longo da vida


Quando criança aprendemos que devemos caminhar na parte lateral da calçada, próximo à guia de sarjeta, deixando a parte interna que é mais segura, para os mais velhos.

Depois, à medida que se alcança a segunda e terceira idade, a força do hábito que se instalou ao longo da vida não nos permite seja utilizada a parte interna.

Quando criança aprendemos que devemos dar preferência sempre aos mais velhos.

Depois, ao longo da vida, continuamos a dar a mesma preferência sem se importar se nós somos os mais velhos. E, por falar em “ao longo da vida”, você já observou que, quanto mais se vive, mais nos tornamos pós graduados em experiências vividas, especializados em cometer menos erros e phd em ser gente? É por isso que se diz que não raras às vezes, a adversidade da vida ensina mais do que a universidade acadêmica.

Mas, o fato de se conquistar esses hipotéticos certificados e títulos com a vivência, não impede que pessoas mais experientes e vividas cometam erros e até delitos graves.

As cadeias contam com um grande número de acusados, condenados e encarcerados que praticaram os mais hediondos crimes, desde pedofilia, tráfico de drogas, corrupção da operação “Lava Jato” e até mesmo homicídio.

Assim, por mais que a vida seja uma grande escola e ela, sem dúvida o é, muitos dela fogem para se enveredar no caminho pecaminoso do mal e da barbárie.

É o livre arbítrio que dá a liberdade a cada um de fazer o que bem quiser, até mesmo ser um monstro e ceifar a vida dos outros. As rugas no rosto não identificam nem revelam o que se passa na mente doentia e aloprada das pessoas.

Mas a trajetória da vida, nos ensina também que não é porque podemos ou temos direito, somos obrigados a tudo, e vice-versa.

Assim, nada nos obriga a sermos sociáveis, simpáticos e comunicativos, mas isso não nos confere o direito de sermos antipáticos e tratar mal as pessoas; não temos a obrigação de pensar igual a todos, a maioria ou a minoria, mas isso não nos confere o direito de não respeitar os que assim pensam; sendo da segunda idade, nada nos obriga a ceder o lugar no ônibus ou no metrô às pessoas mais velhas e senhoras, mas nada nos impede que o façamos; ao verificar na conta do restaurante que um item consumido não foi registrado, nada nos obriga a pedir ao garçom para incluí-lo, mas é o que se deve fazer, da mesma forma que se pede para excluir algum item cobrado e não consumido, porque a honestidade é uma via de mão dupla; o fato de não termos afinidade e empatia com determinada pessoa, não nos dá direito de sermos antipáticos ou até mesmo desafeto; o fato de cometermos erros, não nos obriga a pedir desculpas, mas é sempre bom e recomendável; o fato de não reconhecermos o talento e a inteligência de pessoas bem sucedidas, não nos impede de invejá-la(no bom sentido!), nem nos dá o direito de por em dúvida o seu sucesso; o fato de sermos bem sucedidos não nos dá o direito de humilhar os que não trilharam a mesma sorte; o fato de sermos patrões, chefes ou líderes, não nos confere o direito de humilhar os subalternos; o fato de respeitarmos a faixa de pedestre e até mesmo esperar pela travessia deste em qualquer esquina, como se faz em Gramado e em Brasília, não nos confere o direito de blasfemar com os condutores que não a respeitam. Por final, nem tudo o que é ilegal é imoral e vice-versa.

Esse dois conceitos não são sinônimos e necessariamente nem sempre caminham juntos, embora deveriam. A longo da vida se aprende a conviver e a diferenciar tudo isso, embora saibamos que a vida não é tão longa.

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